quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Sitanel

Sitanel, poucas pessoas ganharam algo assim,
e é com extremo orgulho que te presentearei
com esta homenagem, que eu mesmo a criei,
para servir de prêmio a mim, dado por mim.

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

Poeta Sem Rosto

Como deve ser a vida de um poeta sem rosto?
Como é que pode haver alguém desfaceado?
Como é que lhe faremos um retrato falado?
Será que quando ele sai à rua, sai exposto?

Como viveria então sem lábios para beijar?
E sentiria ele o vento a acariciar sua pele?
E teria ele como ver o que os olhos flagele?
E não teria sobrancelhas para levantar?

Por mais alto tocada a orquestra mais vivace,
conseguiria ouvir os sons do que você gosta?
Às minhas duvidas, dou a minha resposta:
Porque um poeta não precisa de uma face.

A inspiração do poeta não vem só da matéria.
A inspiração do poeta não vem só do mundo.
Não vem apenas da superfície ou do profundo,
mas se tivesse uma cara, seria alegre ou séria?

O poeta sem rosto que agora possa ter existido
não necessita ter vivido uma vida para ser,
nem dos seus sentidos precisa para saber
que mesmo sem face, não é um desconhecido.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Às Ex-Musas

Não haverá mais graça em ir dormir
depois das horas silenciosas, acordados,
em que não teremos segredos a descobrir
além dos segredos que não nos foram contados.

Não me impressionam mais os sonhos
que deslumbrantemente você me aparece
com seus olhos medíocres, mas ainda risonhos,
como nas noites que me aquece ou que me esquece.

E todo esse abandono te deixa mais perto
das outras musas que estão tão longe de mim.
Elas ainda esperam por um poema, agora incerto,
duma antiga inspiração cujos restos chegaram ao fim.

E o destino daquelas que o poeta usa
é a sala escura onde vivem como mortas,
também conhecida como Previdência da Musa,
e desta sala escura só são inspiradas rimas tortas.

Entretanto, me fez um bem a saudade,
para nos rebelar este sentimento omisso,
apesar de vermos aumentando a nossa idade,
creio que nenhum de nós está nem aí pra tudo isso.

quarta-feira, 28 de novembro de 2007

A Última Chance

Se esta for minha última chance de escrever,
não sei se saberei aproveitá-la como devido.
Há tantas coisas que nunca fiz no meu viver...
certamente dessas coisas não ficarei arrependido.

Talvez eu possa escrever algo que te dê prazer,
mas nem mesmo sei qual seu assunto preferido.
Na verdade, acho até que já chegou a me dizer,
mas por não me importar, devo ter me esquecido.

Mas agora, querido leitor, quero tanto sua atenção
que por nada ter-lhe feito de bom, tenho medo.
Agora me arrependo das noites de inspiração,
não aproveitadas, que dormi tarde e acordei cedo.

E foram tantas coisas para as quais eu disse "não":
piratas, prisões, espelhos, presidente sem dedo,
velho no mato, pata sem pato e batatas no chão,
e muitas outras que manterei como meu segredo.

Mas minha última chance não se resume a isto,
sei que minha última jogada será como xadrez,
portanto, dessa mensagem eu realmente desisto.
Aos que querem uma última chance, passo a vez.

terça-feira, 20 de novembro de 2007

Uma Prova de Admiração

Nada poderia ser mais poético para mim
Do que te dar uma prova de admiração.
Muito pouco sei sobre você, ainda assim,
Acho que algo fala em mim além da razão.

Sua presença me anima mais que ninguém,
Não consigo nem mesmo desviar o olhar
Por entre as várias palavras que vão e vêm.
Sempre quando puder, contigo vou estar.

Mesmo que o estar seja somente virtual,
Pulsa vivo este coração no meu peito
Por esse desejo que me é tão abismal.
Sinto que fui conquistado pelo seu jeito.

Diga-me se todos os homens te desejam,
Ou se isso é uma amostra do seu poder,
Ou se minhas rimas acima só demonstram
Que sou um cara sem ter o que escrever.

terça-feira, 23 de outubro de 2007

Inesperado Fim

Manhã triste de celestial chuva,
penetra em minha pele e corpo
com sua água longe de turva
em ventos que levam-na torto.

Esperei muito tempo para sentir
quão gelado as lágrimas ficam,
mas perdoem-me meu mentir
por mais que meus atos digam.

Por que veio com tanta demora?
Por muito pouco não seguraria.
Disfarçadamente meu rosto chora
um pranto invaporável de alegria.

Mas, fecham-se cortinas de nuvens,
apagam-se as luzes do teatro
e retiram-se os velhos e os jovens
sem aplaudir o sol no último ato.

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Flores

Uma flor não te darei,
não sou covarde assim.
Esta planta não plantei,
não a separei do capim,
nem mesmo a cultivei
para usá-la para mim.

Por mais vida que você emane,
esta flor morreria em teus cabelos.
A vida existente a morte bane,
por mais bonitos que podes vê-los,
o tempo apaga o que é galane
por maiores que sejam os apelos.

Se é o destino da flor morrer magra,
que não seja pelas minhas mãos,
nem que seja pela sua face sagra
nem pelo pisar dos meus irmãos.
A flor que a este solo consagra
representa um sorriso dos grãos.

Mas pensando bem,
ignorarei meu próprio aviso,
pois há uma coisa que você tem
que é comparada ao paraíso.
Diga-me, como é que alguém
pode resistir ao teu sorriso?

Se eu sacrificar uma flor,
que seja esta para te dar.
Que eu lhe presenteie com amor
sob o observar do teu olhar,
e teu sorriso fará um cobertor
com muito mais flores a brotar.

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Trono

Oh lua de madeira que escurece no mar,
vales tu mais que o negativo nada
se nua na telha não soubesse nadar
como o bolo que fura o sabão na escada?

Oh estrelas de sebo que voam na terra,
por que tua luz cinza não tinge as mãos
daquele mudo sem braços que berra
por nascer filho do neto dos seus irmãos?

Que sons são esses papeis na entranha?
Têm cheiro de milho com polvo ou atum,
misturados com camarão de lasanha.

Se imprimisse todos, mas só usasse um,
conseguiria com minhas patas de aranha
fazer meus versos limparem bumbum?

quinta-feira, 27 de setembro de 2007

Sinistra Luna

Sinistra Luna que as nuvens desmancha,
refletindo a luz na minha noite sombria,
por vezes é diabinha, por vezes é anja,
por vezes aparece no fórum ou em poesia.

Detentora de milhares de mistérios,
um sob cada fio de seus negros cabelos,
não esteja comigo nos meus adultérios,
não me ouça, não atenda meus apelos.

Hoje, quando a escuridão me envolver,
só haverá uma coisa no céu para olhar,
por mais outras estrelas que possa ver.

Brilhando em prateado seu cheio luar,
que ao dormir não vou mais esquecer,
mesmo não te encontrando ao acordar.

quinta-feira, 30 de agosto de 2007

Grão Anônimo

Gota por gota do meu suor que evapora
é como o grão por grão da ampulheta,
marcando no momento de agora
que espero a hora atrás da mureta.

E o tempo passa, e a banda marcha,
e meu objetivo está quase alcançado.

Quando minha mira meu alvo acha,
é como se o destino já fosse traçado
como o traço que meu disparo deixa
separando o passado do futuro
a partir do manifesto desta queixa
por este homem de coração duro,
que sou eu.

Eis que seu carro de mim se aproxima
assim como meus olhos na mira,
que me mostra a bala que dizima
aquele pelo qual meu rifle atira...

Agora está tatuado na história,
assim como algo que alguém invente,
o dia da derrota da vitória
e da despedida do presidente...

Após receber meu pagamento,
dou por encerrado o expediente
e vou pro meu apartamento
continuar minha vida de gente.

quinta-feira, 9 de agosto de 2007

Sol

O sol desta manhã é tão nostálgico
que me parece o mesmo sol de sempre.
Me aquece como antes, também,
vejo que nenhum de nós mudou.
Nossos pontos de vista mudaram,
a ponto de eu me ver como nunca
em cada dia da mesma rotina.
Lembre-se, sol, de quando me acorda,
embora pareça não te perceber,
há dias sob sua luz que não esquecerei,
há dias sem seu calor que não acordarei
e há noites frias onde não dormirei,
ciumento, pois teu brilho não verei.

segunda-feira, 6 de agosto de 2007

A Lua Negra

A lua negra estava no céu da noite passada, mas você não a viu pois estava escuro.

segunda-feira, 30 de julho de 2007

Debaixo dos Lençóis

Hoje sei que não há mistérios
entre dois amantes sérios
debaixo dos lençóis
sei que não há adultérios
neste momento em que sós
estamos debaixo dos lençóis
você é a vida que sopra-me,
você é a maior parte de mim
enquanto debaixo dos lençóis
meu sonho escapa pelos vãos
e vai voando pro véu do céu
de mais uma noite que passaremos
debaixo dos lençóis
teu sonho diz que aí é tão frio:
o triste silencio de teu coração
anuncia a solidão neste caixão
debaixo dos teus lençóis de chão
longe dos meus de algodão.

quarta-feira, 25 de julho de 2007

Irregressabilisticidade

De que adianta tê-la tão perto,
se ela está tão perto do imutável
e mesmo agindo de peito aberto
seu adjetivo certo é "intocável"?

Para que serve algo eterno,
se no inverno não sente o frio,
e sem o calor como no inferno
é como amor fraterno no cio?

Se é abstrato tudo que me falta,
por que as estrelas desse teto
têm o afeto do brilho que salta
se meu amor é tão concreto?

Seu amor é concreto também,
é tão intenso, duro e cinzento,
que durará muito mais além
do que esta vida ou momento.

Porque ela é imutável, repito,
e por isso lhe peço desculpa,
não vem da Física nosso atrito:
tudo isso foi por minha culpa.

terça-feira, 24 de julho de 2007

É fácil colocar a culpa em Deus quando só você sabe quem é o culpado.

segunda-feira, 9 de julho de 2007

A Surucucurutujararacaracascavél

É meia noite, caminho ao meu lar.
As minhas mãos levam o jantar,
em meus pés, lerdeza ao caminhar
sob a suave luz do prateado luar.

Aos passos, avanço na rua deserta.
Ouço sons que minha barriga ronca,
já imaginando o tamanho da bronca
pela minha morcegagem, na certa.

Mas a maior punição viera antes:
das sombras das paredes do canto,
surge todo motivo do meu espanto:
o mesmo de muitos outros navegantes.

A Surucucurutujararacaracascavél,
uma cobra de cinco cabeças. E mais,
com três asas e trinta e um rabos atrás
de sete sovacos com extremo xexéu.

Encurralado na parede chapiscada,
procuro uma forma para escapar,
mas justo antes de pensar em pensar
a feia visão deixou a bunda cagada.

Mas um raio cai em forma de idéia,
e prontamente arremesso o jantar.
Então as cabeças começam a disputar
ovos fritos, jiló, quiabo, frango e geléia.

Aproveito para seguir a rota de fuga
evitando toda esta ferrenha disputa,
ainda portando uma ou outra fruta
para nos alimentar nesta madruga.

Finalmente chego à minha doce casa,
que para o ataque de meu coração
novamente no fogo esqueci o feijão
e o que restou da casa ardia em brasa.

quarta-feira, 4 de julho de 2007

Transdigitalidadesmo

As vezes dá vontade de escrever a esmo,
transcrever os pensamentos nas letras
e transpondo a linguagem de si mesmo
flui como água suja, entupidas canaletas.

A dessincronização pensamentalogista
traz a representação signamentucional
de palavras parlatocribementes à vista
de seres de compreensão perispiritual.

Mas nem tudo perde-se no processo,
pois o que nos provém individualidade
está além do que nós teremos acesso,

enquanto que nossa personalidade,
por maior que seja o nosso sucesso,
só se expandirá por nossa caridade.

segunda-feira, 18 de junho de 2007

Não

Quando as nuvens dissipam-se no ar,
a paisagem torna-se conhecida e chata
e vigora a ociosidade que nos arrebata
é quando a mesmice vem nos assolar.

Não consigo ver rimas neste momento,
todas as coisas são repetidas e iguais.
Nem consigo ver o que eu queria mais,
ja entreguei-me à preguiça desatento.

E teus olhos hoje estão lacrimejantes,
chorando cristais em meu coração
cortando meu peito como diamantes.

Te olho com o que me restou de visão,
peço-te que inspires-me como antes,
então tu, musa, respondes-me "não".

quinta-feira, 14 de junho de 2007

Homem de Lata

Homem de lata, lata brilhante,
brilha tua casca dura de ferro,
tua voz não chega perto do berro
e tua respiração é ofegante.

Desta armadura que vestes é,
a pessoa por ela protegida
e a pessoa que a tem erguida
no peso que apoia em teu pé.

Retire-a e ficarás mais ligeiro,
descanse teu coração vermelho
na sombra do nosso salgueiro.

O fado que força teu joelho
é tua propria face, cavaleiro,
pois o metal torna-se espelho.

terça-feira, 22 de maio de 2007

Simpática Musa

Minha musa é tão bela que,
se nada existisse além dela,
ainda inspiraria-me tanto, e,
expandiria esta minha cela.

Minha musa é tão ausente,
tão afastada em distância,
que meu cor a tem presente
e me provém boa tolerância.

Bem amada deusa e flor,
sou feliz em ser teu poeta,
sou feliz em te dar meu amor.

Tanto que você me lambeta
só por eu ser seu trovador
e te exaltar ser minha meta.

quinta-feira, 17 de maio de 2007

Partir

Quando você se for,
ficarei muito sombrio,
pois verei o sol se por
esperando o sono frio.

Quando você me deixar,
ficarei muito contente,
somente por isso significar
que você esteve presente.

E leve essa minha parte,
em parte, que é poesia
e me parte se você parte.

Entre tristeza e alegria,
mesmo que nos aparte,
à parte ficará a sinergia.

quarta-feira, 16 de maio de 2007

Amaldiçoado

Mil caíram à minha direita,
meus parentes da terra,
que viviam da colheita,
morreram da guerra.

Dez mil à minha esquerda,
meus soldados de guerra
são minha outra perda
amontoados na terra.

Mas eu não fui atingido,
eu não fui alcançado,
nem fui perseguido.
Fui amaldiçoado.

Nenhum mal me sucederá,
que seja pior do que isto,
e ninguém sobreviverá
depois de tal ato visto.

Nem praga chegará à minha tenda,
porque não a tenho para conhecer
e meu lar é na rocha com fenda,
mas apenas até o amanhecer.

quarta-feira, 9 de maio de 2007

Amanhã

Depois de tanto tempo ido,
Amanhã você virá sem hora.
Se antes eu já havia sorrido,
Espero desde antes de agora.

Todo tempo sempre repete,
Todo futuro vai ao passado.
Pelo que o presente remete,
Amanhã estarei ao seu lado.

Depois desse céu escurecido
A manhã te trará, senhora.
Se antes eu já havia sofrido,
Pressa desde antes da demora.

Espero que não venha tarde,
Que não chegue antes, pois,
Não apresse, nem retarde
O café que farei pra nós dois...

terça-feira, 8 de maio de 2007

A Manhã Amanhã

Som de tic em tac vai,
o que ganhamos agora
escorre das mãos e sai
do alcance, vai embora.

E você não poderá tê-lo
novamente em teu poder,
por maior que seja o apelo,
por mais que possa perder.

Mas tem hoje o que não
terá amanhã de manhã,
será o mais novo ancião
cara de murcha maçã.

Amanhã então estou eu,
mas a manhã nunca vem,
e se o amanhã é todo seu,
a manhã não é de ninguém.

quarta-feira, 25 de abril de 2007

Com Cem

Se todas as tristezas do coração
fossem trocadas por alegrias,
aceleraria minha pulsação
e meu peito explodiria.

Se todos os erros em minha mente
fossem totalmente esquecidos,
ou eu erraria novamente,
ou ficaria emburrecido.

Se todos os meus sonhos
fossem um dia realizados,
talvez fosse menos risonho
passar toda a vida acordado.

Se todos os meus amores
fossem bem correspondidos,
talvez eu sofresse as dores
de uns cem corações partidos.

Cem alegrias, cem experiências,
cem sonhos, cem amores,
cem erros, cem conseqüências,
cem pesadelos, cem dores.

terça-feira, 24 de abril de 2007

Desinspiragro Poema de Agora

Hoje não estou inspirado,
minha mente dorme mastigada.
Hoje não pareço um tarado,
sou bêbado deitado na estrada.

O sol me acerta em cheio,
minha pele marrom coça,
faz-me ver silicone no seio
duma própria mulher da roça.

Grama debaixo do pé de caqui
pode ser boa para ser comida
antes de alguém libertar o Ki.

E que nasça da casca da ferida
o filho do chão donde eu caí.
Dê descanso a esta mente moída.

quarta-feira, 4 de abril de 2007

Medo

Espere-me, mas não voltarei cedo.
Sinuosos caminhos, mundo pequeno.
O tempo passa suave, eu não temo.
Mas temer algo é meu maior medo.

Aconteçam meus passos à frente,
meu futuro será o que foi passado.
Vou driblando, avançando apressado,
indo à volta da origem no presente.

Incertezas me aguardam, eu sei,
mas num mundo injusto circular
se sofre mais à corrente quebrar,
então por querer crescer, mudei.

Receio em escrever minha história,
não ouso correr neste túnel escuro.
Das voltas e narigadas nos muros
a luz da saída me saiu da memória.

Temo ir para o Oeste e para o Norte.
Não será meu destino final, afinal,
mas como sou mais um mero mortal,
cada passo que dou, preciso de sorte.

quarta-feira, 28 de março de 2007

Múltiplos Sentidos

Imagens em mente, mentem, não sente?
Veja com as vendas que os olhos vedam
que o fruto da flor da árvore da semente
nascera dos pássaros que no chão defecam!

Sons em memória, calam, não ouve?
Ouça com os fones dos seus telefones
que o vento que sopra no pé de couve
é como a saliva que voa nos microfones!

Gostos em prazeres, apagam, não prova?
Saboreie com sanduíche e batata frita
a água de gosto de uma alma mais nova
como sangue da veia da boca que ainda grita!

Texturas em pele, misturam, não duram.
Acaricie uma pétala de uma rosa rosada
e sentirá que como os espinhos que furam
a pétala não dura se arrancada e mutilada.

Cheiros sem narizes, dissipam, aos poucos.
Como todos os gases do peido de Napoleão
que se tornaram moeda de troca dos loucos,
das cabeças dos capitalistas mais surgirão.

terça-feira, 13 de março de 2007

Corra

Corra que a hora passa,
passe para que não fique
senão a multidão te amassa,
fácil e sem perder o pique.

Acorde que o sol queima,
terminou sua viagem sonhal.
Parta logo para tua freima
e viva tua vida mais mortal.

Coma que a hora chegou,
a comida que enche marmita
é feijão que você comprou
e a gosma que você vomita.

Queria eu ser você para ler,
sorridente, versos reversos.
Se fosse eu, teria de escrever
quanto meu leitor é perverso.

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2007

A gota

Das alturas vem caindo
Deslizando sobre o ar
No seu trajeto gracioso
Vem deitar-se sobre o mar

Se encontra, então, em casa
E o horizonte ali está
Ali, lá ou cá
Qualquer lado que olhar

E o sol aquecendo-a,
Lá do alto interfere
Faz dela simples névoa
Que da vaga se despede.

Nas alturas vai subindo
Escalando sobre o ar
Na sua forma graciosa
Até sua volta para o mar

sexta-feira, 9 de fevereiro de 2007

Rotina

Eu nasci pra viver, nasci pra sonhar.
Nesta noite de estrelas brilhantes,
mesmo estando de mim muito distantes,
delas tentarei me aproximar, tocar.

Na lareira com o calor das labaredas
ou nos céus, voando cinza de fumaça,
viajarei por mares de vinhos em taça
e por montanhas com capim sem veredas.

Pintura de sorriso e extrema beleza,
seu rosto permanece em minha mente,
pois em toda bela visão que aparente,
não passa de um esboço seu da natureza.

E por mais que você possa fugir de mim,
meu coração sempre me aplica o castigo
de sonhar com você e não acordar contigo
e esperar da realidade de um triste fim.

Nada vale a pena. A noite é bem pequena.
Mas a tristeza que me traz o sol matutino
de acordar repetidamente no mesmo destino
não é capaz de ferir minha alma serena.

E começaremos e terminaremos sem aloite
depois de voarmos juntos em sonhos
e pousarmos despedindo-nos risonhos,
prepararemo-nos de dia para outra noite.

domingo, 28 de janeiro de 2007

O Tempo

Hoje o tempo está o que estava amanhã.
Anjo na areia da praia, mal desenhado,
perto de onde ontem eu estava sentado
com minha mãe, meu pai e minha irmã.

Umas nuvens levadas nos céus pelo vento
é tudo que posso ver pela pequena fresta,
mesmo próximo, encostando até a testa
e olhando pelo olho menos remelento.

Manhã de prelúdio de um novo começo
de mais um dia que ainda vai se passar.
Se pelo menos eu parasse as ondas do mar...
Talvez conseguisse se voltasse do berço.

Abro a porta, vou em direção ao oceano.
Ao que me acaricia suave no peito a brisa,
aproximo do mar como o carro da balisa.
Sinto água nos meus pés, me rodeando.

Quanto tempo dura a rocha mais dura?
Para onde foram o anjo e as pegadas?
Se minhas obras foram bem apagadas,
então por que a água não me perfura?

sexta-feira, 26 de janeiro de 2007

Sobrevivente

Grande leva de pecadores,
não passam de fajutos atores
que de obsessão pelos seus amores
sofrem na vida, incastos de horrores.

Sobreviverei ao terremoto,
às grandes ondas do maremoto,
ao apressado entregador de moto
e até mesmo aos carros que capoto...

Mas sem você, eu morrerei.
Por você, certamente pecarei.
Pela sua alma e felicidade lutarei.
Da minha vida, agora, o que faço, não sei...

quinta-feira, 25 de janeiro de 2007

Apaguem os Versos de Mim

Apaguem os versos de mim,
essas palavras não falam!
Obra dos dias que passaram
cuja chatice não tinha fim.

Nós ouvimos passos da morte.
Relógio de parede taqueando
e versos no teclado, teclando.
Apostaria se tivesse a sorte?

Posso por momentos esquecer
ao lembrar dos olhos, a olhar.
E ela está em seu melhor estar
que meus olhos poderiam ver.

Toda aleatoriedade criada
se transforma em inspiração.
Nascem-me versos que serão
cortantes como espada afiada.

Espada que encravo no peito.
Quanto mais nela eu penso,
mais aumenta o saldo tenso
por pensar em não ser o eleito.

Da gratidão com ódio e amor,
pelas cotas da minha existência
com alusão à sua experiência.
Atenda ao meu pedido, por favor.

Apaguem os versos de mim,
essas palavras eu não falei!
São desejos que não queimei
com ardente chama carmesim.

terça-feira, 23 de janeiro de 2007

Derrota

Hoje o vento sopra,
as folhas balançam,
os frutos se lançam
e a árvore dobra.

No céu uma nuvem,
na terra, há outras
de poeiras soltas,
com cor de ferrugem.

Ela em sua cabana
põe cartas na mesa
a par de sua beleza
de origem africana.

A sorte salvadora
e sua habilidade
fazem-na celebridade
enquanto jogadora.

Do rei de espadas
à de copas rainha
afinidade mantinha.
Cartas embaralhadas.

Com valete de paus
e com um ás de ouro
fez-se o seu tesouro
ganhando dos maus.

Começou a andar torta.
Amparou-lhe o curinga.
Com uma garrafa de pinga
guiou-a até a sua porta.

E em sua cabana de pau
a espada fere-a no coração.
Fugindo com ouro na mão
o curinga não deixou sinal.

sábado, 20 de janeiro de 2007

Fel

Sombras delineadoras da paz
a que procuro,
por trás do mar escuro, que adorna
o teu manto pecador.

Simbolo do vínculo maldito , martelo esquecido ,
quando a ponta da faca estava a circular
no corpo estarrecido ,

Lar das ébrias histórias que contei
para adormercer , no espaço em terra que
abri para conhecer.

levanto meus olhos ao céu ,
nublado , como a névoa que cintila ,
que passeia nas ambiguidades de cada vida,

apodrecida , escarnecida , esquecida,

numa mistura , em um tonel de fel ,
perdida em um bar , em algum lugar.

Ambigüidade

Quando nos amamos, nos buscamos.
Quando nos achamos, nos perdemos,
e nos dividimos em outros ramos
de buscas e amores mais amenos.

Quando nos perdemos, nós ganhamos.
Quando ganhamos, nos desprezamos,
e o desprezo que nos damos há anos
é invisível por sagrados e profanos.

Quanto mais queremos, mais odiamos.
Quanto mais odiamos, menos queremos.
Quando menos queremos, então amamos,
e amamos muito mais além do extremo.

quarta-feira, 17 de janeiro de 2007

Poema Genérico


é
tu
sim
você
você?
você é
você ia
você era
você saiu
você chora
você nasceu
você é gente
você é humano
você é culpado
você é o que vê
você é diferente
você está vivendo
você está morrendo
você é o que nasceu
você é o que não sou
você era o que nasceu
você é quem eu não fui
você é o que envelheceu
você foi o que construiu
você quis ser o que não é
você gastou as suas forças
você arrependeu-se pelo não
você trabalhou o seu passado
você é o que seus pais querem
você perdeu as suas esperanças
você é o que a sociedade espera
você ganhou um pedaço do paraíso
você muito pouco agora pode fazer
você viveu sua vida humana como eu
você então aprendeu a morrer em paz
você foi exatamente o que é ser você
você veio ficou viveu depois se foi
debaixo da terra você desaparecerá
em nossas memórias você permanece
enquanto que um de você lembrará
por outro lado um outro esquece
mesmo sem vida tudo continuará
a cada dia descansando em paz
o que era matéria se desfará
para que outro venha e viva
e que o outro venha e leia
e descubra a sua história
enquanto as letras duram
ou seus olhos enxerguem
vem olhar o seu futuro
e você permanecerá aí
que leia antes de ir
não saia sem sorrir
só me deixe dormir
e me deixe sonhar
presente passado
vamos despertar
estou atrasado
te acompanhei
mas você foi
não esperou
não voltou
não olhou
e seguiu
não viu
nem eu
ou tu
eles
nós
eu
?

segunda-feira, 15 de janeiro de 2007

O Paladino

Nossa origem é a mesma, mas tu me feres.
Nosso destino é o mesmo, queres antecipação.
És obra do ódio, feita para cortar sem ver a quem.
Sou fruto do amor, feito para aquecer o coração.
Seria fruto do amor quem te empunha também?

És fria e sequiosa de meu sangue quente e vermelho,
e teu fio é a saída da chama negra da alma humana.
Sou quem tu cortas, por ser quem te sustenta e guia.
Brilhas em cada centímetro de existência profana,
E teu fim será na ferrugem pela minha sangria.

E derrotados por nossas próprias conquistas,
quando ambos deitarmos neste solo amargo,
voltaremos à origem, que é nosso destino,
para levantarmos de mais um breve letargo
para que eu seja a espada, e tu, o paladino.

sexta-feira, 12 de janeiro de 2007

A existência

A fantasia extravasando alegria,
Loucuras dos sonhos dançantes,
Que transbordam sua magia,
E nos carregam delirantes.

No outro canto, emburrada,
A sensata estupidez humana,
Que sempre nos leva ao nada,
Enquanto almejamos a fama.

O erro na certeza sem dúvida.
A dúvida se a certeza é um erro.
Perguntar faz parte da vida,
mas o que é a vida, mesmo?

O existir é um problema,
Ou a falha está em ser?
A morte destrói a existência,
Ou ela destrói você?

segunda-feira, 8 de janeiro de 2007

A Travessia

Vultos que voam nos ventos da vagueza,
sois obra de minha mente ou da natureza?
Sombras que vão no vão da escuridão,
sois produtos da noite ou da solidão?


Caixas empilhadas em poeira no canto,
contendes mais armas para o povo santo?
Homem sentados em belas cadeiras,
transformareis os soldados em caveiras?

As pessoas que me esperarem no paraíso
esperarão-me até o dia do último juízo?
Os versos que me deram esta glória
Sumirão sem entrarem para a história?

E, de que outras maneiras eu poderia
transformar minha alegria em poesia?
Todas minhas paixões numa só orgia?
Minha longa jornada em curta travessia?

sexta-feira, 5 de janeiro de 2007

A morte

Seus olhos enxergam
O que a ti é invisível
Suas garras dilaceram
Até mesmo o intangível

Ninguém foge à sua verdade
Nada vai contra sua fúria
E se ouves a lamúria
Diminui-se a piedade

O fim é o que ela prega
amiga e inimiga da justiça
e tão cega quanto ela

Sai a qualquer hora ou dia
Do abismo que se esconde
Buscando nova companhia

quinta-feira, 4 de janeiro de 2007

Lobos Uivantes

Céu de lua de cheia tigela prateada,
cercada de estrelas de pontas de lança.
Folhas de bambu que o vento balança
e as lança às poças d'água na estrada.

Sons de dedilhadas cordas da harpa
não são calmos para poder pernoitar,
nem são desafinados para te acordar
do sono que dorme na verde escarpa.

Calmo tempo que devagar passará,
com calma, lento, detalhado e certo.
Observo que tudo dorme por perto,
e escrevo os versos abaixo, você lerá.

Ao passo que ouço um intruso na casa,
corro silencioso pelas moitas de capim,
desembainho minha espada espadachim
para fatiar essa ousada pessoa rasa.

Surpresos, dois lobos com um pernil,
sairam corrento, com meu jantar preparado.
Fico somente com a certeza do resultado:
quem come pernil é a cadela que os pariu.

quarta-feira, 3 de janeiro de 2007

Chuva

Chuva d'água virgem celestial,
nostalgia cadente colore sem cor
meu rosto nesta hora matinal
que tanto preciso de seu amor.

Finas agulhas geladas na pele,
como o despertar para caminhar
que, por mais forte que eu apele
ou congele, não me deixa adiar.

Nuvens de cores negra e branca
cobrem o sol, nos roubam a luz,
e, enquanto o vento as espanca
desenhos e formas nelas produz.

E aí vem a chuva novamente,
no sopro dos ventos da mudança
em uma noite de vapor ardente,
branda como inocente criança.

Triste prelúdio do fim amargo
dos círculos de areia que fizemos
dum momento nosso de letargo
onde estiada a chuva, corremos.

Abismo

Abismo abstrato da concretude,
existe onde nada há ou exista.
Há coisa que é mais matereísta?
O que faço para que te mude?

Mais que a linha do horizonte,
é a existência numa desistência.
Como descrever tua aparência
se vejo que olhas minha fronte?

És algo mais além de um portal
onde os pilares do céu têm base
no mundo de humanidade mortal?

És o marco do fim de uma fase
cujo próximo passo será o final,
ou só um substantivo, numa frase?

terça-feira, 2 de janeiro de 2007

Perfeição

Querendo alcançar o palpável no infinito,
Vazo por entre a brecha sob a porta
A perfeição seria a minha toca,
Se capaz de desvendar o seu caminho.

A loucura me consome cada parte,
Afugento-me em qualquer canto,
Afogando os olhos nesse pranto,
Digo adeus à sanidade.

Onde se encontra esta virgem,
A quem devoto minha vida,
E vagando em seu manto escondida,
Sem deixar qualquer vestígio?

Se não te vejo, sou cego.
Se não a possuo, miserável.
Condenado, pois sempre quero,
O que é de fato inalcançável.

A resposta já existe, é secular.
O que não há é a pergunta.
Eu quero o ar sem respirar
A vitória e não a luta.

Cobro-me sempre o mesmo,
Não aceito sua falta,
Insulto o reflexo no espelho,
Enfureço-me, sinto raiva.

Assim mesmo sigo andando,
Vivendo no erro, sendo normal.
Nas próprias pernas tropeçando,
Confuso, como um animal.

Criatura

Abrace-me, segure-me agora!
Enquanto nosso sangue corre,
é a hora que o tempo escorre.
Corra! Agora será nossa hora!

Jogue comigo só mais um jogo,
Ganhando, perdendo ou empatando,
vamos juntos o tempo gozando,
juntando e soldando com fogo.

Fogo que arde e queima, fere,
mas o calor que sinto, cura,
portando, não se desespere.

Junte a mim a tua cintura.
E depois que o tempo zere,
seremos mais uma criatura.

Silêncio

Silêncio extinto. Ouvidos famintos.
Falar o quê? Música no karaokê.
Não pressinto. Apertem os cintos.
Sem balê, só me alegraria você.

Mas ao sumir toda essa beleza,
pomos a culpa na velocidade.
Não ouvimos os sons da natureza,
nem há mais silêncio nessa cidade.

Grite e corra, corra na correria!
Sebo nas canelas e você some.
Corra e grite, grite na gritaria!
Tão grande boca! Morcego come.

Não encontra-se mais paz aqui,
seus pensamentos ainda falam.
Escandaloso vendedor de caqui,
tenta empurrar os que sobraram!

Risos e gargalhadas, choro só.
Nostálgica madrugada amarelada.
Palavras cruzadas te dão nó,
és mais uma pessoa silenciada.

Definição Prática

O Matereísmo é o movimento literário que busca a ruptura com o pós-modernismo através da não-ruptura, rompendo assim com todos os movimentos anteriores. Vem da consideração da matéria, do etéreo e do abismo paradoxal do definitivismo aleatório circular.

Combina-se o seguinte:

Materialismo:
O materialismo designa um conjunto de doutrinas filosóficas que, ao rejeitar a existência de um princípio espiritual liga toda a realidade à matéria e a suas modificações.

Etereísmo:
A consciência da existência do Mundo das Idéias, como um idealismo, a força invisível que não só explica os fenômenos que a ciência não explica, como também os que ela explica.

Abismo paradoxal:
A existência na não-existência, um abismo é o nada, e o nada é um abismo. Mas se é, é algo, e sendo algo não pode ser nada. Não é um todo mas também não lhe faltam partes.

Definitivismo aleatório circular:
É o dom de desconhecer a fundamentação originária de algo, além de buscar o desequilíbrio nas interdependências, como a sombra, a luz e a coisa iluminada. Objetos originam-se em idéias, mas idéias vêm de onde?